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sábado, 7 de novembro de 2015

Poema

TRABALHOS DO CORPO

Este corpo se conquista com a arte e o engenho dos bárbaros
Seu movimento risca o espaço
Preenche-o com delicadas linhas de força
Dilata o olhar na jornada incerta
Este corpo dança
Destrói leis da física
Perfura o ar-livre
Ás vezes carne desgovernada
Ás vezes traço matemático
Este corpo não mais se sente
Fratura-se, rompe-se, perde-se
É deixado para trás
Terra-de-ninguém
Caído no rastro de outro corpo
Palco imcompartilhável
Este corpo sua
Multiplica-se atroz
Depois de  desposar, desafiar, seduzir
Renasce – múltiplo & contraditório –
Supernova explodindo em luzes
Sempre longe do universo
Ao rés-do-chão
Bem mais próximo
Mais tóxico
Agora não há mais espaço
Nem ar-livre
Nem dança
Só corpo
E tudo nele navega – elétrico
Tudo nele anela – novelo
Espelho do fora
Diferente de si e diferente
Múltiplo & contraditório
Fora de tudo
Como um breve sonho da matéria
Involuntariamente móvel
Posto pertencer sempre ao azul-metálico
& atrevessar desertos a seco

Sandro Ornellas - Trabalhos do Corpo e Outros Poemas Físicos

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