TRABALHOS
DO CORPO
Este corpo se
conquista com a arte e o engenho dos bárbaros
Seu movimento
risca o espaço
Preenche-o
com delicadas linhas de força
Dilata o
olhar na jornada incerta
Este corpo
dança
Destrói leis
da física
Perfura o
ar-livre
Ás vezes
carne desgovernada
Ás vezes
traço matemático
Este corpo
não mais se sente
Fratura-se,
rompe-se, perde-se
É deixado
para trás
Terra-de-ninguém
Caído no
rastro de outro corpo
Palco
imcompartilhável
Este corpo
sua
Multiplica-se
atroz
Depois
de desposar, desafiar, seduzir
Renasce –
múltiplo & contraditório –
Supernova explodindo
em luzes
Sempre longe
do universo
Ao
rés-do-chão
Bem mais
próximo
Mais tóxico
Agora não há
mais espaço
Nem ar-livre
Nem dança
Só corpo
E tudo nele
navega – elétrico
Tudo nele
anela – novelo
Espelho do
fora
Diferente de
si e diferente
Múltiplo
& contraditório
Fora de tudo
Como um breve
sonho da matéria
Involuntariamente
móvel
Posto
pertencer sempre ao azul-metálico
&
atrevessar desertos a seco
Sandro Ornellas - Trabalhos do Corpo e Outros Poemas Físicos
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