"Conhecedor e usuário deste mundo ‘suprafísico’, rarefeito a extremo, Mirdad projetou seus contos como se desejasse – e isso é um julgamento meu, bem pessoal, e que em nada depõe contra o autor e seus leitores –, ao mesmo tempo, reproduzi-lo e ironizá-lo. Não foi o primeiro a fazer isso, nem será o último. O que importa é o que ele obteve, tanto para o deleite quanto para o mal-estar do leitor, afinal de contas o ‘efeito de estranhamento’, se nem sempre é bem recebido (Alain Resnais é a prova, com seuAno passado em Marienbad), contribui e muito para a perpetuação e propagação da obra de arte. E não se pode deixar de lado o método do autor, que, a exemplo de Poe no conto e de Baudelaire na poesia, busca estruturar sua narrativa no intento de, ao fim, surpreender ou socar tanto seus leitores quanto seus personagens.”
“Cada conto de Mirdad aqui é uma nova proposta extraída de um propósito único: retratar o nosso mundo. Cada conto é uma fotografia de um álbum espúrio. E ele o constrói com tamanho êxito, que chego a temer que, por isso, seu livro acabe rotulado. Mas acho que não, pelo contrário: se no futuro, alguém necessitar saber como era a vida neste início de século XXI, espécie de Belle Époque de la Technologie, deverá forçosamente ir aos documentos, entre os quais a literatura é um dos mais poderosos, por sua singularidade autoral, e, encontrando O grito do mar na noite, achará a própria vida daquela ‘nossa presente época’, pulsando como um coração imortal.”
Mayrant Gallo - O grito do mar na noite
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